Como todo porto alegrense sabe - ou pelo menos deveria saber -, neste domingo encerra-se a 53ª Feira do Livro de Porto Alegre, promovida pela Câmara do Livro da Capital. Não vou comentar o número de vendas, nem nada, pois não é o objetivo deste post.
Para mim, a Feira do Livro já deu o que tinha de dar. O objetivo dela, quando rolou a primeira edição, era ajudar as livrarias a venderem mais as obras que estavam no estoque, estimulando a leitura. Os descontos eram grandes, chegando à 50%.
Mas hoje, já não é mais isso. Em vez de bancas de livrarias, temos bancas de editoras. Há uma briga ferrenha entre livreiros e distribuidores, mas nem por isso quem sai ganhando é o público. Por que? Simples. A maioria dos livros encontrados da Feira é de preço tabelado. Até nos saldos os livros são caros - algumas bancas chegam com "promoções" de "Saldo A = R$ 15", e outras, ainda bem, com "Três por dez".
Fora, também, que este evento nada mais é do que uma forma do sujeito dizer que lê alguma coisa. Grande parte vai lá, compra dez, quinze livros, dá entrevista dizendo que a feira é boa porque estimula a ler, mas vai demorar dois, três anos, para ler metade do que adquiriu - isso se ler. Um bando de pseudo-cultos. Não é à toa que a média de livros lidos por pessoa, ao ano, não passa de três.
Alguns juntam dinheiro o ano todo para comprar na Feira do Livro. A desculpa é de que lá pode-se comprar com descontos. Sim, pode-se, mas ninguém pensou em comprar nos sebos? No centro de Porto Alegre tem uns quantos em que, algumas obras magníficas, não passam de R$ 10. Basta procurar. Mas aí a gente entra em uma outra questão: "Não tenho tempo para sair pesquisando preços". Claro, pessoinha, mas pra ir na Feira do Livro tem, né?
Relação entre amigos
É incrivel ver, também, as sessões de autógrafos. Enquanto alguns autores têm filas quilométricas para autografar livros, como no caso dos radialistas do programa Cafezinho, da Pop Rock, outros têm dez, quinze pessoas no máximo. O por que de tudo isso? Ora, simplesmente porque não foi divulgado pela mídia.
Não acredita? Ora, vejamos: a Pop Rock é uma das rádios mais ouvidas da região metropolitana, tanto por jovens quanto por pessoas de mais idade. Devem ter batido na tecla dos autógrafos umas 50 vezes, pelo menos. Até aí, tudo bem, é necessário ser inteligente e aproveitar os recursos que tem.
Mas também têm aqueles que não fazem a propaganda diretamente. Digamos que, uma determinada emissora, tem três funcionários que lançarão livros. O que eles fazem? Fulano diz "Beltrano fez uma obra que merece ser lida, e autografará seu livro tal dia e tal hora". O que o Beltrano faz? Agradece e diz que o Fulano também lançará um livro maravilhoso, e o Cicrano também. Assim até eu vendo.
Enquanto isso, ocorrem absurdos, como na edição do ano passado, quando José Clemente Pozenato teve pouquíssima gente na sua sessão de autógrafos. Não sabe quem é ele? O Quatrilho, te lembra alguma coisa?
Renovação
O gaúcho, simplesmente, é dose em algumas questões. É lindo o ufanismo que temos ao defender nosso Rio Grande, em compensação parece que adoramos parar no tempo. É difícil ver renovação por aqui - a única é quando a gente vota para governador, pois nunca é reeleito ninguém.
E isso ocorre, também, na Feira do Livro. Ano passado, no Cais do Porto, tinha um Lounge, onde as pessoas iam para lá beber e ver o pôr do sol em frente ao Guaíba. Além dos "anônimos", autores também estavam por lá, e conversavam com os demais de igual para igual, sem aquela coisa de "eu sou autor e tu é leitor". E o que aconteceu este ano? Vou repetir uma frase que o Edu Santos, da Ipanema FM, repetiu trocentas vezes no programa A vez do Brasil: "O sucesso do espaço foi grande que a organização optou por extingüi-lo".
Sim, pessoinha, acredite: isso aconteceu.
Parafraseando o pessoal da Ipanema: "Palmas para a Câmara do Livro!"
É por essas e outras que temos um monte de analfabetos funcionais. Ninguém é estimulado a ler seriamente
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4 comentários:
Escuta aqui pessoinha, só uma coisa a dizer... concordo plenamente, rsrsrs!
Só esqueceu de comentar que, às vezes, os livros estão mais baratos nas livrarias, como a Globo, por exemplo, que dependendo do dia dá desconto, do que na própria Feira do Livro.
Mesmo assim, nós, pessoas (que tentam ser) cultas, ainda passeamos pela Feira na tentativa de, quem sabe, um dia, fazê-la renascer das cinzas!
Raquel, a Feira do Livro só vai "renascer" quando mudarem essa postura tradicional. Tá na hora de renovar. Quem sabe proporcionar, em vez de uma sessão de autógrafos, um bate-papo com os autores no Bistrô do Margs, com direito a, quem sabe, uma roda de chimarrão?
Esse pessoal quer levar a gurizada a ler, mas não pensa como ela. Assim não tem condições.
Ah! E perdoa, mesmo, essa falha. Acabei esquecendo desse detalhe - que meus pais comentaram comigo ontem.
Concordo plenamente com o post, não vou lá a pelo menos três anos. O principal motivo são os preços, o outro é a hipocrisia do pessoal que compra por esporte.
Sobre ela se renovar eu creio que é menos ainda, são as pessoas que devem gostar de ler e não obrigação da Feira se tornar uma entidade mutante. Mudar é tendência, mas no caso da Feira essa regra não se aplica, caso contrário teríamos uma feira de desenhos animados e história contada cheia de efeitos especiais.
Concordo com a maioria, principalmente do que adianta ir numa feira de livros só por ir? Os livros mais caros do que na livraria(alguns peguei 20% mais baratos na livraria).
É legalir lá, ter seus autores favoritos, mas o que adiata senão pode dialogar com eles? Só pra ter autografado o nome dele? GRANDE MERDA.
Idéias são importantes a assinatura dele desejando um abraço, não vale nada. ( Pelo menos não agora, quem sabe daqui 300 anos para um museu).
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